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Scribblenauts e a palavra materializada.

16 set

Uma das coisas que sempre se pergunta a um escritor é por que ele se tornou um escritor. As respostas são várias e muitas vezes até criativas. Só que eu, na minha imensa sabedoria, tenho certeza que se, não todos, mas a brutal maioria, escreve porque tem um vontade enorme de ser como Deus.

O poder de criar um mundo e inserir personagens para interagir nele é uma tentação muito grande pra qualquer um ignorar. Tenho certeza que todos os escritores experimentaram isso pelo menos uma vez na vida.

Eu experimento o tempo todo. E adoro o gostinho!

Vai dizer que não é legal brincar de Todo Poderoso? Vocês vaziam isso com suas coleções de Comandos em Ação todo dia. Hoje ainda fazem, mentindo descaradamente para mulheres com o único e impuro intuito de ter acesso às partes íntimas das moças.

Todo mundo é arquiteto do seu próprio universo em certa medida.

Nossa, que frase mais clichê essa aí de cima…

Merecia uma surra de vara de marmelo depois dessa. Mas como minha mãe não lê este blogue, acho que posso ficar descansado.

O que eu quero dizer com isso tudo é que, as palavras tem um enorme peso na vida das pessoas. Palavras criaram e destruíram civilizações inteiras, religiões, sistemas filosóficos e políticos além das piadas de duplo sentido idiotas pululando na internet.

Agora, imagine esse poder todo na palma da sua mão. Claro, de forma bem menos dramática como eu descrevi. O poder de criar coisas pela simples imposição da palavra.

É muito legal ser meu próprio deusinho todo poderoso!

É muito legal ser meu próprio deusinho todo poderoso!

Creio que todo mundo já sacou que estou falando de um jogo de videogame. Eu não quero escrever uma crítica sobre ele, até porque está cheio delas por aí. Só digo que é basicamente um quebra-cabeças no qual você usa palavras para resolver os problemas. E as palavras se transformam em objetos, animais, veículos e qualquer coisa que sua mente doentia for capaz de criar, desde que não seja sobre japonesas lésbicas se pegando ou o Batman.

Fim da explicação sobre o jogo.

O grande lançe aqui, pelo menos pra mim, é o fato de você ser um pequeno deus. Seus pensamentos tornam-se realidade no ambiente do jogo pela simples evocação da palavra. Um sonho de todos os poetas e escritores do planeta desde que a escrita fora inventada por algumas pessoas muito desocupadas e sem plantações pra colher.

Então, agora temos deuses crianças invocando dinossauros para lutar contra cavaleiros medievais armados de pistolas lazer. Montanhas sendo criadas e destruídas apenas pela vontade da palavra. Prédios aparecendo com um simples toque.

Se quiser, pode-se jogar vôlei com um pinguim.

Se quiser, pode-se jogar vôlei com um pinguim.

Enfim, o que me fascinou não foi o jogo em si. Acho que ninguém prestou muita atenção no que o joguinho fazia. A palavra escrita se materializando sim, que fez as pessoas se prenderem a isso.

Nosso sonho de sermos deuses se fez da maneira mais simplória possível. Ainda que seja apenas um jogo, ainda que seja infantil. Contudo, ele nos dá a sensação de sermos donos do poder de todo o universo, só precisamos dizer a palavra mágica, literalmente.

Fico pensando, será que todos os livros, histórias, línguas, evoluções semânticas… Tudo isso foi criado para um dia chegarmos ao nível que um briquedo infantil nos sugere?

Seremos mesmo capazes de mudar magicamente o mundo a nossa volta com uma palavra, como no mundo ideal de Scribblenauts?

A grande ambição da humanidade está representada num simples jogo agora. Os chatos metidos a intelectuais de plantão diriam que é uma banalização da palavra. Mas quem se importa com o que esses chatos pensam? Eu não me importo. E certamente as milhares de pessoas que compraram o jogo também não.

Imagino que todos estavam sedentos por esse tipo de coisa, visto o sucesso que Scribblenauts atingiu – se você não gosta de videogame é claro que não sabe disso, ora! As pessoas queriam produzir, criar e não mais seguir caminhos pré determinados como sempre aconteceu nessa indústria desgraçada e entupida de dinheiro que é o videogame.

Ao que tudo indica a vontade de fazer suplantou a de seguir. Podemos continuar sonhando com palavras novas para moldar o mundo até que um dia, quem sabe, possamos fazer isso magicamente, como deuses…

Nossa, agora fui bem profundo. Ou maluco, vocês decidem.

Até mais!